Vidros espalhados pelo chão do quarto. Sangue em meio a pedaços. Das cicatrizes que desejei não serem profundas; dos roxos que eu quis não serem tão visíveis. Dos cortes que não são disfarçáveis pela maquiagem. Pinta e borra, disfarça e sorri. Ri como se estivesse tudo mais que bem. Trabalha um pouco e mais um pouco até abrir mil abas e não as completar.
Da força que eu quis escapar, mas não me foi deixada para lá. Dos pedaços que eu não consigo colar de volta sem tudo assim quebrar. E a agua começa a inundar meu quarto e eu afundo como no mar negro, sem nada a me agarrar. Antes eu podia até acreditar, agora já não há mais nada para crer, tão pouco desejar. Acabou e eu me odeio um pouco mais por ainda lembrar.
Eu sou um cinco de um dez. Temo, mas agora aceito. Onde estão minhas falhas e meus defeitos. Deve ser na curva dos meus seios, ou na lateral da minha barriga, talvez no tamanho da minha bunda, no meu nariz meio arrebitado ou um pouco maior. Deve ser o quieta demais, apressada demais, proativa de menos. Escreveria até mais, mas espero me apontarem no jogo dos 7 erros, o que de fato, me torna tão não ideal.
Fecho a fechadura mais de tres vezes para impedir que entre. Bata na porta quantas vezes quiser e eu te deixo gritar. Não esbravejo mais, mas fecho os olhos para escutar se meu coração ainda salta, se meu estomago mina, se minha garganta esvazia.
Se eu me perco entre pensamentos; se quero me sentir assim. Entre respiros, verifico se eu ainda suspiro. Se ainda transpiro algo além do quero repelir. Se meu coração bate no mesmo compasso que antes; se ele dança na mesma frequência que todos os outros. E descubro que nunca fui como os outros. Mas, alguém sim.
Escuto meu sangue circular e mesmo na dor sentida, grito no travesseiro as coisas que eu poderia falar. Mas, nem o céu quer escutar. Quebrei minhas correntes para despedaçar meu coração. Ainda entra luz pela janela, ainda sonho com as lembranças, ainda recordo do quanto pedi que as coisas dessem certo e que eu nao sentisse metade das cores cinzas daqui.
Entre respiros, esse é o maior desafio. Pisar entre cacos de vidro, no breu de uma neblina fria e densa que chega para me lembrar que serei a última a voltar a respirar. A última da fila. E a pergunta que me cala: até quando isso vai me machucar?