Deste
lado não há paraíso. Não há inferno. Estou no meio termo e caindo de um buraco
longo. Vendo todas as arvores ficarem cada vez mais altas e o céu cada vez mais
distante. Fecho os olhos, porque abri-los dói demais e cansei de chorar por ter
caído em uma armadilha enquanto corria para me salvar. Teve um dejá vú com
alguma outra história? Sim, estou caindo como a Alice das histórias do Lewis
Carroll. Mas, não sou ela a caminho de um País das Maravilhas. Não depois do
que aconteceu. Estou no caminho de nada em busca de mim, novamente.
Acordei
em uma situação mirabolante. Falei a todos que não tinha feito nada daquilo e
ninguém acreditou em mim. Me chamaram de louca, doida de pedra e mentirosa.
Fugi daquele lugar chamado de “seguro”, que de seguro não tinha nada, pois cada
esquina parecia um labirinto, já não confiava mais em ninguém, e eu me perdia
tentando sobreviver aquilo.
De
tanto correr, cai em um buraco profundo. Talvez eu tenha sido empurrada. A
queda foi mais longa e dolorida do que eu esperava. Bati com força cada osso e
músculo do meu corpo, que parece ter quebrado , ou talvez eu fosse de vidro, não
aguentando a força da pancada. Abrir as pálpebras para entender onde eu tinha
me metido era algo incompreensível. Onde eu estaria? Porque me sentia tão
quebrada e dolorida? O que me levou aquela situação?
Procurei
traços de sangue, mas só vi rachaduras. Vi meu coração bater mais devagar estilhaçando
a cada maldita batida, e minha aparência era algo irreconhecível. Levantei-me
aos poucos com os olhos vidrados na longa floresta de um mundo que eu não
conhecia. Mágoa e dor povoaram pelos ares e era isso que eu respirava. Meu
corpo,por vezes sucumbia ao desespero e eu pensava que nem eu seria real ali.
Aquilo só podia ser um sonho. Um beliscão, um puxão de cabelo e eu acordaria em
casa.
Engano
meu foi pensar que realidade não podia ser tão fantasiosa. Utópico ainda mais
era pensar que tinha a possibilidade de acontecer com todo mundo, mas não
comigo. É essa ingenuidade que nos leva a acreditar em palavras de papelão,
onde qualquer vento derruba todo um argumento. Aquele mundo não era meu, nem
seu, nem de ninguém. Vivia fugindo de algo que custava a acreditar. Podia cair tão
baixo e ainda perder alguns parafusos da cabeça?
Se
cair doeu, ver as cicatrizes me desconsolou. Quanto tempo levaria pare me
recuperar? Por quanto tempo eu, que parecia ter se quebrado em mil pedaços
assumiria a forma uniforme, sem grandes rachaduras? Cada vez mais longe da
verdade e cada vez mais atrasada com o tempo. Passos pequenos, desviando de
pedras, dando pulos nas cobras e segurando um coração de vidro de uma garota de
vidro que tinha medo de se desmanchar em pedacinhos sem ter alguém que pudesse
recolher e colar.