De
gota em gota, o oceano puxou a garota de vidro para dentro da sua imensidão.
Lágrimas se confundiam com as ondas. Enquanto afundava lentamente, de olhos
abertos via a transparência e a magnifica cor azul: a sua cor preferida a
estava levando de volta as suas profundezas.
Por mal habito, tentou respirar e
pensar nas coisas boas que iriam ficar no fundo com ela: aquele amor não
correspondido, aquela amizade traiçoeira, aquele abuso do passado, ás vezes que seus sonhos morreram na praia; o
dia em que a mudança de mundo trouxe felicidade, mas também desafios antes
inexistentes.
Ela
pensou em tudo naquele ultimo momento ."Aquela velha e pesarosa sensação
da vida passando diante dos seus olhos". Tal sensação tirou o pouco do fôlego que lhe restava.Ela não queria isso. Não ter pensado nos detalhes
doloridos a teria levado em segurança para algum lugar, para um porto
seguro.
De garota de vidro á garota permeável, que absorvia tudo e todos, mas
nem tudo era bom, nem tudo era benéfico para sua vida. Embebida de tamanha tristeza e dor, que suas pernas ameaçavam ficarem moles e seu corpo despencar.
O
espaço começava a ficar pequeno. O ar a lhe faltar. Tantos seres passavam por
ela e seu corpo flutuava como uma pena, com a leveza e a pureza de um pássaro. Ela
quis sobreviver aquilo. Quis acordar do coma. Quis mostrar fortaleza quando
tudo era um muro derrubado. Quis amar e teve seu coração perdido. Quis ajudar e
a vida te deu tantos tapas, que sua feição não se abria em sorrisos. Quis e
queria, desejou e não podia.
Não
que ela pudesse enxergar esperança afrente. Não depois de todo pandemônio que
vivenciara. Tantas dores, tantas traições, tanta ingenuidade... Talvez ela
odiasse mais a si mesma do que toda aquela turba a sua volta a qual chamava de
vida. E sua única forma de exaurir tantos sentimentos calejados era praguejar
ao vento com tudo o que podia, na esperança - talvez a sua única esperança - de
desmaiar sem ar.