Passe.


                                      Mãos abraçando o volante: dez para as dez

Desviando do que poderia ser, até não ser.

Música tocando alto, aquela que cantamos a plenos pulmões.

 Olhos desviam de um lado para o outro,

 nunca parando em canto nenhum a não ser no fantasma de voce.



O vento que toca minha nuca tem o mesmo peso das suas mãos.

 A sensação dos seus dedos subindo pela minha pernas, apertando-as até me tirar um sorriso. 

Os lábios suaves parados no sinal vermelho, que queimam tudo dentro.

 Iluminado pelas luzes da noite, perdendo a próxima saída depois do beijo.



Tudo o que fazemos é dirigir. Dirigimos até onde tivermos que ir.

Olhos focados na nossa frente, escondendo os sentimentos que prendemos.

 Sentados e calados, esperando o sinal verde para avançar.

Orgulhosos o suficiente para não desviar.



A rodovia tem gosto de liberdade. 

Mas, sozinha ela é silenciosa.

Esculpida em um peito vazio, espelhada nos quilômetros de uma linha reta.

Aumenta-se o barulho para não escutar o coração martelando.

Os timbres mudos que antes foram ouvidos.


Estamos indo embora. É simples ir, mas o que mataria mais do que partir?

Você pareceu um lar para mim.

E eu daria a volta no primeiro contorno a seguir.

Mas, a única coisa que posso fazer é dirigir.


Na linha reta.

Atenta as curvas, sem mãos para distrair.

Sem conversas para rir.

Sem sua voz para guiar.


Dez para dez, ainda.

Pé no acelerador, olhos adiante. 

Retrovisor distante.


Encaro meus próprios olhos, sem ver os teus.

A visão que desacostumei por um tempo.

E que agora, é nova, nítida, mas em tons distantes.


Olhos que encaram o nada do meu lado. 

Esquece-se do beijo, das mãos e dos desejos.

Perigo é apontado, mas o que é, senão o que foi desfeito.


Esconde-se no meio de tantos indo e vindo.

 Passa despercebido e continua assim, indo.



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Escrever me salva, as vezes. Destroi também, alivia, mas machuca. A ambiguidade da vida. Bem vindo(a), esta é uma parte minha, que também pode ser sua. Com amor, Bia .




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