"É cômodo amar quanto tudo vai bem. Quando você acorda e vai tomar banho,
escovar os dentes, colocar uma roupa limpa. Quando você me dá flores, prepara o
café da manhã, puxa a cadeira para que eu sente ao seu lado. Quando você diz
que vai me dar aquele anel que eu fiquei de olho na vitrine da joalheria, me
escreve um cartão cheio de palavras e rimas bonitas, me faz um cafuné, dá um
abraço longo, cheira meu cabelo e diz que tem cheiro de chá de camomila. Quando
dirige com a mão na minha perna, fica me observando cantar música brega, faz
carinho com o pé no meu pé antes de dormir, coloca o braço por cima da minha
cintura e diz vem-mais-pra-perto. Assim todo mundo sabe amar.
Difícil é amar quando alguma coisa dá errado. Quando a casa está uma bagunça, quando as contas começam a crescer e o
dinheiro diminuir, quando qualquer palavra vira ofensa, quando um silêncio se
transforma em dúvida. Quando sobram
palavras entaladas na garganta, quando falta um gesto que era pra ter marcado
presença, quando o beijo é rápido, o olhar é vazio, o abraço é curto, as
promessas falham. Quando o zíper da mala fecha e você não vai. Quando você
espera por algo que nunca vem. Quando as expectativas começam a te sufocar.
Quando os olhos ficam marejados ao lembrar do que podia ter acontecido, mas não
aconteceu. Quando a porta bate, o tom de voz aumenta, a paciência se esgota, o
humor não faz mais rir."
Clarissa Corrêa é gaúcha, redatora publicitária e escritora. É autora de três livros: Um Pouco do Resto, O amor é poá e Para todos os amores errados e também é colunista do site da revista TPM. Atualmente, faz freelas dentro e fora da propaganda. Produz conteúdo e escreve para sites, assim como também faz textos sob encomenda, votos de casamento, homenagens e textos em geral. Clarissacorrea.com