Texto: Último dia

Imagem de ice, photography, and boy
   O dia chega ao seu fim. É meu último na cidade. E agora lembro que esqueci de fazer e dizer tantas coisas... mas já é tarde. O império que outrora eu construíra, agora desmorona pedra sobre pedra. E o que me resta? Arrependimentos, somente. Nada pode ser feito. O último ato já começou.
   Arrependo-me... arrependo-me amargamente de ter dado atenção às críticas ao invés dos elogios e palavras amigas. Arrependo-me de acorrentar a minha alma àqueles que nunca sequer quiseram o meu corpo. Eu poderia ter feito tanta coisa... poderia ter mudado a cama de lugar, poderia ter plantado uma árvore, poderia ter dado mais atenção às minhas paixões platônicas e utópicas. Poderia ter dito para a mulher da minha vida que a amo sem medidas. Mas nada disso eu fiz.
   No entanto, fiz uma última caminhada pela minha velha cidade. Tão cheia de mentes vazias e corações corrompidos... as árvores estavam mais verdejantes. Vi os casais de namorados nos bancos da praça e os ônibus que partiam melancolicamente. E dentro de um deles, lá estava ela, a minha utopia, com cabelos negros e olhos que mais pareciam estrelas. E ao lado dela, um rapaz segurando sua mão. Uma pena... em outra vida talvez aquele fosse eu.
   Meus amigos vieram à minha casa. Todos eufóricos, mas com os corações aflitos. Aquela seria a última vez que eles me veriam. Gritamos, bebemos, cantamos e xingamos uns aos outros. No fim, lembramos dos bons momentos que passamos juntos e choramos por não poder mais reviver tudo aquilo. O fim do dia havia chegado, e eu por displicência, não dei o meu melhor. Arrumo agora as malas, cheia de roupas e de memórias. Deveria também ter comprado uma mala maior. Mas as lojas já fecharam.
   Fui à janela, e dei uma última olhada na cidade. Poucos prédios e muitas luzes. Os poucos minutos que ali fiquei, foi tempo o suficiente para me fazer lembrar de toda uma vida que ali tive. Saí com as malas em mãos e subi no ônibus. Fui ao encontro do nascer do sol.

- André Viana
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Bia, 27 anos, mora em João Pessoa, PB. Fisioterapeuta, instrutora de pilates e amante da literatura. Sempre foi amante de livros desde criança e em 2014 criou o Blog Meu Coração Literário para compartilhar sua paixão. Além de ser viciada em café, series e filmes. Pensa em ser muitas coisas, mas de uma ela tem certeza: leitora assídua nunca deixará de ser.




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