O dia chega ao seu fim.
É meu último na cidade. E agora lembro que esqueci de fazer e dizer tantas
coisas... mas já é tarde. O império que outrora eu construíra, agora desmorona
pedra sobre pedra. E o que me resta? Arrependimentos, somente. Nada pode ser
feito. O último ato já começou.
Arrependo-me...
arrependo-me amargamente de ter dado atenção às críticas ao invés dos elogios e
palavras amigas. Arrependo-me de acorrentar a minha alma àqueles que nunca
sequer quiseram o meu corpo. Eu poderia ter feito tanta coisa... poderia ter
mudado a cama de lugar, poderia ter plantado uma árvore, poderia ter dado mais
atenção às minhas paixões platônicas e utópicas. Poderia ter dito para a mulher
da minha vida que a amo sem medidas. Mas nada disso eu fiz.
No entanto, fiz uma
última caminhada pela minha velha cidade. Tão cheia de mentes vazias e corações
corrompidos... as árvores estavam mais verdejantes. Vi os casais de namorados
nos bancos da praça e os ônibus que partiam melancolicamente. E dentro de um
deles, lá estava ela, a minha utopia, com cabelos negros e olhos que mais
pareciam estrelas. E ao lado dela, um rapaz segurando sua mão. Uma pena... em
outra vida talvez aquele fosse eu.
Meus amigos vieram à
minha casa. Todos eufóricos, mas com os corações aflitos. Aquela seria a última
vez que eles me veriam. Gritamos, bebemos, cantamos e xingamos uns aos outros.
No fim, lembramos dos bons momentos que passamos juntos e choramos por não
poder mais reviver tudo aquilo. O fim do dia havia chegado, e eu por
displicência, não dei o meu melhor. Arrumo agora as malas, cheia de roupas e de
memórias. Deveria também ter comprado uma mala maior. Mas as lojas já fecharam.
Fui à janela, e dei uma
última olhada na cidade. Poucos prédios e muitas luzes. Os poucos minutos que
ali fiquei, foi tempo o suficiente para me fazer lembrar de toda uma vida que
ali tive. Saí com as malas em mãos e subi no ônibus. Fui ao encontro do nascer
do sol.
- André Viana