Texto: País das utopias - PARTE III


        Eu sempre achei que teria alguém me esperando em algum lugar, mas não sei se acredito nisso mais. Comecei a me levantar, devagar e segurando o coração nas mãos. Devagar e sempre procurando um lugarzinho que eu chame de lar. Fui parada mais vezes do que imaginava. Algumas peças de tabuleiro se moveram e eu tive que desviar, fazendo escolhas e tomando decisões precipitadas que traziam tantas consequências para meu presente, naquele momento.
      Eu não me sentia real, não me reconhecia e quem me via estranhava a garota dos longos cabelos negros, dos olhos brilhantes e perdidos, que sempre andava com as mãos segurando um coração negro como o fundo do oceano.
       Um dia ela encontrou alguém. Uma peça branca naquele labirinto. Soltou uma mão e com a outra segurou a mão da peça que também estava quebrada. Ela tinha grandes cortes e suas mãos não existiam. Ambos continuaram pelo mesmo caminho, quando uma pedra caiu e a peça tropeçou.
         A garota derrubou seu coração no chão, desesperada em ajudar alguém que era um conhecido somente. Segurou os pulsos e apertou. Aquele órgão oco e pulsante ficou jogado e ela não sabia se deixava no caminho ou se deixava o amigo. Na dúvida, não sabia se o coração valia mais que amizade. Soltou as mãos e disse ao amigo:" guia-me para casa, para o melhor lar que encontrares, pois não aguento mais o cansaço. Não consigo caminhar sem saber meu fim. Leve-me para onde eu possa descansar meu coração."
     Mas, a peça recusou. Disse que estava mais perdida do que antes de tropeçar. Não conseguia diferenciar as cores e tudo ficou cinza. A garota prometeu guiar por um certo tempo, guiando além da sua expectativa, mas nem ela sabia onde estava e nem como se encontrar.
      Uma confusão enublou seus pensamentos e uma chuva de pedras caiu, jogando-a no chão e derramando mais uma lagrima do seu oceano, este que ela não aguentava mais secar. Deitada, olhando para cima. Cabelos molhados, roupas amassadas e rachaduras que só aumentavam em sua pele.


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Bia, 27 anos, mora em João Pessoa, PB. Fisioterapeuta, instrutora de pilates e amante da literatura. Sempre foi amante de livros desde criança e em 2014 criou o Blog Meu Coração Literário para compartilhar sua paixão. Além de ser viciada em café, series e filmes. Pensa em ser muitas coisas, mas de uma ela tem certeza: leitora assídua nunca deixará de ser.




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