Eu sempre achei que teria alguém me esperando em algum lugar, mas
não sei se acredito nisso mais. Comecei a me levantar, devagar e segurando o
coração nas mãos. Devagar e sempre procurando um lugarzinho que eu chame de
lar. Fui parada mais vezes do que imaginava. Algumas peças de tabuleiro se
moveram e eu tive que desviar, fazendo escolhas e tomando decisões precipitadas
que traziam tantas consequências para meu presente, naquele momento.
Eu não me sentia real, não me reconhecia e quem me via estranhava a
garota dos longos cabelos negros, dos olhos brilhantes e perdidos, que sempre
andava com as mãos segurando um coração negro como o fundo do oceano.
Um dia ela encontrou alguém. Uma peça branca naquele labirinto.
Soltou uma mão e com a outra segurou a mão da peça que também estava quebrada.
Ela tinha grandes cortes e suas mãos não existiam. Ambos continuaram pelo mesmo
caminho, quando uma pedra caiu e a peça tropeçou.
A garota derrubou seu coração no chão, desesperada em ajudar alguém
que era um conhecido somente. Segurou os pulsos e apertou. Aquele órgão oco e
pulsante ficou jogado e ela não sabia se deixava no caminho ou se deixava o
amigo. Na dúvida, não sabia se o coração valia mais que amizade. Soltou as mãos
e disse ao amigo:" guia-me para casa, para o melhor lar que encontrares, pois
não aguento mais o cansaço. Não consigo caminhar sem saber meu fim. Leve-me
para onde eu possa descansar meu coração."
Mas, a peça recusou. Disse que estava mais perdida do que antes de
tropeçar. Não conseguia diferenciar as cores e tudo ficou cinza. A garota
prometeu guiar por um certo tempo, guiando além da sua expectativa, mas nem ela
sabia onde estava e nem como se encontrar.
Uma confusão enublou seus pensamentos
e uma chuva de pedras caiu, jogando-a no chão e derramando mais uma lagrima do
seu oceano, este que ela não aguentava mais secar. Deitada, olhando para cima.
Cabelos molhados, roupas amassadas e rachaduras que só aumentavam em sua pele.