Presença secreta

 


Os portões são abertos das 6 as 21. Deixo que visitem seus entes queridos, como se tivesse algum poder para barrar que tragam flores, que chorem sob a terra ou fiquem em silencio no meio da morte. Me encontre nos túmulos das pessoas que perdemos, dos amores rejeitados, da solidão que perdura e da tristeza que antecede nossos olhares.


Há muito a se dizer quando se vai. E se vai de maneira repentina, dói ainda mais. É como se tivéssemos todo o tempo do mundo, mas o amanhã é tão incerto que não percebemos que para alguns ele acaba. 


O tic-tac biológico dá os ultimos suspiros. De repente para poucos, demorado e doloroso para outros. Duro para quem ver de fora, mas que chora por dentro a dor que não é sua, mas rezou para que fosse.


Vê o túmulo e as palavras que dizem algo querido. Os ossos virarão pó e o seu pedido ao vento será entregue. Se a crença for suficiente, o céu mostrará que acredita. Se demora, mas ao demorar escuta o choro desesperado de uma mãe que perdeu o filho; do pai que não acordará mais; do irmão que nunca mais sorrirá; da criança que não viverá a infância; dos avós que nunca mais escutará conselhos. 


Perdeu e se perde, mas segue. Entra no seu mundo, mas os ruídos continuam lá. Seus pés fincam na terra firme quase como se perdessem força para sair do lugar. Deixa-se ir. As flores continuarão na terra e murcharão sem ninguem para cuidar. Dê água fresca para elas, que na morte desabrochem vida. 


E voce pensa que uma pessoa não pode ser apagada, nem mesmo as lembranças. Cruzam nosso caminho e mesmo com a morte, permanecem presente nos vivos. E se houver algo para se acreditar, de onde estou sinto a ausência secreta, que não é mais do que sua presença na minha mente. Voce não está mais aqui, mas continua em todos os lugares que passou e ficou.


Ao contar que viveremos perdendo uns aos outros pelo resto das nossas vidas, fico em duvida se aguentarei perder quem amo. Se os sonhos vividos significam algo; se do céu você olha por mim de alguma forma. Se na distancia, seu amor ainda vive e nem a morte, nem as barreiras romperão com isso.


É um longo caminho de ganhos e perdas. E quando os olhos fecham, uns são apagados definitivamente , mas nunca das lembranças de quem os têm.

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Bia - mora em João Pessoa, PB. Fisioterapeuta, instrutora de pilates e amante da literatura. Sempre foi amante de livros desde criança e em 2014 criou o Blog Meu Coração Literário para compartilhar sua paixão pela escrita e pela leitura.




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