Nós, mulheres, que somos ora meninas, ora adultas. Sabemos viver sozinhas, mas queremos uma companhia. Somos ótimas amigas, mas dependemos do clima. Temos conexão com as outras, mas sentimos quando a traição nos cerca.
Nós, mulheres que brincamos de boneca quando crianças, mas queríamos correr atrás da galera no meio da rua. Brincar de esconde- esconde até sentirem nossa falta. Correr para tocar nos outros para sermos ouvidas. Brigamos para que não nos tocassem de forma alguma, mas formos despercebidas.
Nós, mulheres, que fomos alvo de olhares proibidos, desejos macabros e toques repulsivos. Se falar alto, vão brigar contigo. Se falar baixo, não te escutarão. Se comporte como uma boa menina; cala a boca e repita: " menina boa até ser boa menina".
Nós, mulheres, que subimos a escada, mas descemos para nos esconder da maldição da roupa apertada, dos seios fartos, das curvas delineadas. O casaco que cobre para não chamar atenção; guarde o batom vermelho. Se blinde de todo tipo de desrespeito.
Nós, mulheres que crescemos e aprendemos a esconder nossas emoções, porque é muito mais facil aceitar do que discutir. Do que iria adiantar, se ninguem poderia nos escutar? Se compreender é ser sensível demais, fraca por demais, drama até ser. Seja natural, passa alguma maquiagem, finja.
Nós, mulheres que enfrentamos as ruas escuras sozinhas nas horas mais escuras. Vestimos roupas mais folgadas para nos tornamos invisíveis do olhar da maldade, da ventania do assedio e do perigo de sermos violadas. Corremos quando queríamos andar. Choramos quando só queríamos sorrir. Aguentamos para não pedir para desistir.
Nós, mulheres que damos mais amor do que recebemos. Nos doamos de corpo e alma e ainda escutamos que não temos significados para tanto. Enganadas fomos até sermos sobreviventes em uma selva composta por todo tipo de caráter. Amamos a inexistência, como uma boneca, deixamos que brincassem conosco.
Nós, mulheres que nos reconstruímos mil vezes, mesmo com medo de nao pertencer; desejando a segurança da proteção, quando só podemos salvar nós mesmas. Quando falamos o que queremos do futuro, mas esse mesmo é rejeitado. Se não queremos, somos descartadas.
Nós, mulheres que empunhamos espadas, prendemos nossos cabelos, nos preparando para mais uma batalha travada contra nós. Silenciadas até gritarmos que fizeram algo conosco. Nos feriram de novo, mas aqui estamos, levantando. De novo.
Nós, mulheres que somos força da natureza. Malcriadas, diferentes, frias, quentes, emocionais e racionais. Travamos o inimigo. Respiramos na escuridão e escutamos que tudo o que fizemos um dia foi em vão.
É hora de dizer até logo a tudo de ruim que já enfrentamos. As batalhas que travamos, a escuridão na esquina que nos deixa com medo de qualquer pessoa que se aproxima. É hora de nos benzer de todo mal disfarçado de bem. De pessoas que alisam nossos cabelos e por trás, nos detonam, inventando histórias. Mentiras tão bem contadas que só esperamos a máscara cair, sem levantar a voz porque somos educadas demais para pedir.
Nós, mulheres que precisamos dos outros, mas damos conta da casa, dos filhos, da família, do pai que está doente, das tias que perderam a esperança, das amigas que estão na corda bamba, da ausência de dinheiro, da mente ansiosa, do coração partido, dos sonhos destruídos.
Nós, mulheres que somos a liberdade em pessoa. Seguramos nossa barra, engolindo os nós presos na garganta, chorando de raiva, perdoando os outros. Erga a cabeça e coroe-se, porque não há ninguem que faça isso a não ser nós mesmas.