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As mãos tremem. Os olhos focam e desfocam. O andar que era firme, passa a ser devagar, cuidadoso. A rapidez torna-se rara. Os reflexos fracos. Teu corpo enfraquece como se a velhice se antecipasse para voce.
Os remédios não melhoram algo que não pode ser curado. O mal continua, criando linhas dentro do seu cérebro, ligando seus músculos e criando sinapses cada vez mais lentas, menos precisas, mais dominantes. A independência começa a dar medo. A insegurança do cuidado, a falha mecânica abriu incógnitas e o receio é mais presente que antes.
Você ignora o seu corpo, mas continua tomando todas as drogas possíveis, mais de cinco vezes por dia para controlar algo incontrolável. A notícia chegou de surpresa e de certa maneira, não me sinto preparada para possíveis despedidas, e nem voce. As conversas estão sendo sussurradas não para esconder, mas para esconder nosso medo de te perder.
Nunca te contei, mas tive um pesadelo há um ano atrás e desde entao, a corda bamba torna-se meu elo mais fraco. Estamos por um fio, um fio de vida e morte. Talvez eletrodos não resolvam o problema, mas darão ao seu coração a ligação que o cérebro precisa nesse momento. Levodopa segue seguindo seu sistema imunológico, tendo reações bioquímicas que precisam existir para seu corpo funcionar.
Para te sustentar um pouco mais. Andar um pouco mais rápido. Pensar antes de agir; resistir a impulsos e os tremores diminuírem se tudo ocorrer como tiver que ser. Escrevo escondida porque não quero que me veja chorar e não conseguirei disfarçar dessa vez.