Sempre me disseram que eu poderia ter quase tudo o que
quisesse. O “quase” dependeria da minha força de vontade, da dedicação e
esforço. Porém, isso tudo foi relacionado a meu futuro acadêmico. Nada se
referia ao amor. Afinal, ensinar amor é como jogar xadrez: você pode arriscar
tudo para ganhar ou perder, mas nunca se sabe o que vai acontecer.
Já arrisquei das duas formas: em uma, tive esperança demais
que a garota quieta, nerd finalmente conseguiu gostar tanto de alguém para se
arriscar. Deu errado, o coração foi pisoteado tantas vezes que mal sobrou
pedaços para colar. Sendo assim, me conformei que perdi não so a
habilidade de amar, como também a vontade de fazer algo que eu amo: escrever.
Há meses não escrevia com meu próprio coração. Hoje, no
virar da madrugada, digito na penumbra algo que encheu meu coração: amor. Vivi
uma experiência de alguns minutos, mas que se tornaram uma lembrança memorável
e quem sabe uma futura vivencia antes negligenciada.
Ao ter no meu colo, um garoto de 5 anos adormecido filho de
um amigo , senti um calor no peito e um anseio louco que foi sempre odiado por
mim: filhos. Uma garota como eu não deveria pensar assim, mas não pensei tanto
quando a cabeça do garotinho descansou sobre meu ombro. Não pensei também
quando coloquei uma toalha embaixo da sua cabeça para que as aventuras de
velocidade no carro não o machucassem. Tambem não pensei quando depois de
acordado, ele quis voltar para mim.
Te pergunto: ter filho é assim? Um pedaço seu que sempre te
emociona quando visto? Um amor que não precisa de palavras para ser demonstrado?
Um cuidado que vai além do comum? Um afagar de cabeça quando se está cansado.
Um ombro para descansar e quem sabe chorar quando as coisas estão difíceis. Um
sorriso companheiro quando se é entendido.
Não vivi isso por muito tempo. Mas, senti. Senti o pouco
que me foi dado e não me mexi. Fiquei quietinha, afaguei, acalentei,quis
fechar os olhos para descansar, mas abri para cuidar. Depois disso, meu coração
aqueceu. Passei uma parte do dia observando a interação de um pai com um filho.
Absorvi aquilo e quis transbordar em um lugar só meu com uma memória de
algo desejável, de um amor compartilhado com um pedaço meu.