"Não importava qual caminho quisesse seguir, disse ele, alguma força invisível o empurrava na direção contrária." "Ocê precisa se agarrar a um lugar dentro de docê mesmo onde eles não consegue entrar."
Esse livro foi escrito em 1966, plena época em que havia a luta dos direitos civis nos EUA. E dessa forma, a autora aborda a violência, o preconceito e a opressão de uma sociedade. E assim como Grange Copeland, não importa onde esteja nosso corpo, mas nossa alma é livre, independente das regras. Mas, será que nossa mente não está escravizada?
"Somos donos de nossas próprias almas, não é?"
Nela acompanhamos a família Copeland em meados dos anos 60. Grange Copeland e seu filho, Brownfield, sempre viveram uma vida difícil, escrava dos fazendeiros brancos e na pobreza. Porém os atos do pai acabaram afetando a vida de Brownfield, que se desviou do caminho e tornou-se alguém que não imaginava. Para ele, não havia responsabilidade, tudo era culpa dos seus pais: se eles não tivessem feito isso e aquilo, a vida teria sido diferente.
Caos, inferioridade, miséria foram suas companhias. E quando adulto, decidiu ser superior: atraindo a vida dos outros para si, destruindo-as e desprezando. Uma de suas filhas, Ruth, é a personagem que define o fim. Ela carrega em si a violência física,psicológica e social que sofreu.
Confesso que essa é uma leitura difícil de digerir, crua e nua. É impossível não sentir a amargura dos personagens, tristeza pelas situações vivenciadas na infância que afetaram amargamente suas vidas adultas. Eu queria expressar bem o que senti lendo, mas só consigo pensar na angústia, na dificuldade e na dureza desse enredo.
Lembrando que alguns fatos são baseados em história real e fico pensando o porquê esse livro ainda não ter sido adaptado. Ele merece atenção em tempos como estes, para reconhecer o ser humano, a percepção da dor frente ao abandono.
Por mais que seja um livro difícil, por vezes, dolorido demais para continuar, sinto te dizer que você não conseguirá larga-lo. Mas, ele é essencial para conhecer o próximo, sua jornada social.
Com uma escrita afiada, objetiva e original,
levando-se em conta o dialeto regionalista e coloquialista da população negra. Dividido
em partes, acompanhando as três gerações da família Copeland, os capítulos
curtos ajudam no melhor entendimento pela dureza da história. Ela não tem medo,
expondo a violência, a crueldade e as feridas da trama.
“Ele estendeu a mão e, com um suspiro, ela abriu
mão de tudo que tinha sido um dia em favor de tudo o que se tornaria agora”.
É possível acompanhar as mudanças de Grange, antes
tão odiado assim como o filho. Antes desumano, cruel e desprezado, ao longo da
narrativa, ele se torna resiliente e acaba sendo tão bem construído assim como
os outros personagens.
O romance de Alice Walker trata de assuntos tão
relevantes, assim como a educação como forma de independência do indivíduo,
violência contra mulher,abandono, racismo e temas políticos e sociais. AA Terceira Vida
de Grange Copeland traz reflexões duras, com personagens cruas, nos
fazendo o seguinte questionamento: a partir de quando nos tornamos tão
parecidos com nosso opressor?