Resenha: CANTIGA DOS PASSAROS E DAS SERPENTES, Suzanne Collins

Editora: Rocco

Nota: 4,5' 

Coriolanus Snow faz parte da elite da Capital. Seu pai perdeu tudo na guerra e ele vive com sua avó e sua prima, Trigis. Toda a riqueza da sua família foi perdida em em ações no Distrito 13.Porém, no 10º Jogos Vorazes, os estudantes terão a oportunidade de trabalhar como mentores dos tributos com uma bolsa de estudos para a universidade, se ele for o vencedor. Todavia, Coriolanus acaba sendo mentor da uma menina do Distrito 12, que ele odeia, por sinal. No entanto, aos poucos, ele percebe que Lucy Gray Baird pode ser a única maneira de garantir seu futuro.

O livro se passa em três partes, nas quais temos o antes, o durante e o pós Jogos Vorazes.O Spin off de Jogos Vorazes é diferente dos livros anteriores.A trama política torna-se mais intensa, uma discussão sobre a natureza humana e disputas de poder: nascemos com ela ou somos modificados pelo meio? O quão perverso é o ser humano quando se tem poder?

Através de uma perspectiva sombria dos Jogos Vorazes, temo uma narração em terceira pessoa sobre um personagem que já conhecemos pelo seu futuro. Snow não é um personagem para amar, é para odiar. Manipulador e não romantizado, acompanharemos seu caminhada para ser um ditador.

Quem são os seres humanos? Pois quem somos determina o tipo de governo de que precisamos.

Os bastidores dos Jogos Vorazes são brutais. No inicio, tudo era muito mais cruel, desumano. Vamos conhecer a criação dos jogos e suas modificações através da visão de um mentor/ditador, como isso reflete nos distritos. Apenas com 18 anos, Snow vê no poder da Capital o meio para obter tudo o que deseja. Até percebe que a ordem, a submissão dos outros distritos é o único jeito de contornar o caos. Ele crê nisso e coloca em prática. Por meio desse contexto, os regimes totalitários são explorados, através do temor do povo.

A história é rica de referências políticas, é um mergulho maduro na série e compreendi a escolha da Suzanne quanto a quem seria o protagonista, visto as questões sociais abordadas, tão reais para nossa vida. È possível entender o quão importante é o passado do Distrito 12 e como uma personagem encanta desde a primeira canção a Capital pode ser uma ameaça ao governo.

Lucy Gray faz seus protestos através de suas canções. Pela beleza e intensidade de sua voz, ela dá vida a muitas canções que conhecemos tão bem em JV. OS: escutem a Maiah interpretando as canções de Lucy Gray, por favor. Voces poderiam sentir o poder que suas palavras têm.

Minhas ressalvas ficam quanto a lentidão da narrativa, aos prolongamentos de algumas cenas, como repetição de falas.Alguns personagens secundários são deixados de lado mesmo que fossem interessantes e outros são mais desenvolvidos, mas talvez não fossem tão necessário.

Eu senti falta de um maior aprofundamento da vida de Lucy, de melhor demonstração  mais demorada da decima edição dos Jogos Vorazes. Quanto a relação romântica de Snow e Lucy achei desnecessário, todavia ao longo da leitura percebi o quão manipulada a garota era para atingir os objetivos de Snow. Ele quer possuí-la, usá-la para seus próprios fins.

Talvez o final não agrade a todos, mas eu curti muito.O Snow é ditador, sempre foi, além de traiçoeiro, controlador e sem piedade. Fantástico, essencial e melhor do que imaginei, voltando as raízes de Suzanne Collins após 10 anos. Uma série violenta, crítica ao governos que ao inves de protegerem os jovens, os punem pela sociedade.

Foi uma experiencia que transcende minhas palavras, por ora. Sei que tenho minhas ressalvas, mas foi tão bom voltar para a essência dos Jogos Vorazes através de uma perspectiva não confiável, que acentua que tudo sempre foi sociopolítico. Quantos temas essenciais  e referencias maravilhosas,  desejo tanto ler outros spin-offs dessa história.Se você é fã e quer conhecer a visão cruel, violenta e desumana dos Jogos, indico  a leitura.

Descobrimos também a origem das músicas que nos encantaram nos livros anteriores, como Deep in the Meadow e The Hanging Tree. O momento em que um rebelde do 12 é enforcado na árvore-forca e os tordos repetem suas últimas palavras desesperadas foi, na minha opinião, uma das partes mais bem escritas, pesadas e chocantes da série de Jogos Vorazes.Mesmo que ao longo do livro Snow tenha demonstrado sentimentos de amor e amizade, é possível perceber que ele facilmente deixava-os de lado ao colocar sua sede por poder em primeiro lugar. Snow não aparenta amar realmente Lucy Gray, mas sim mostra o desejo de ter posse dela. Não era realmente amigo de Sejanus, mantinha-se perto para não ser implicado nas ações rebeldes dele e na esperança de conseguir explorar um pouco mais a família do garoto.

“ O que aconteceu na arena? Aquilo é a humanidade despida. Os tributos. E você também. Como a civilização desaparece rapidamente. Todas as suas boas maneiras, a educação, a formação da família, tudo de que você se orgulha, arrancado num piscar de olhos, revelando o que você realmente é."

"Snow cai como neve, sempre por cima de tudo"

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Bia, 27 anos, mora em João Pessoa, PB. Fisioterapeuta, instrutora de pilates e amante da literatura. Sempre foi amante de livros desde criança e em 2014 criou o Blog Meu Coração Literário para compartilhar sua paixão. Além de ser viciada em café, series e filmes. Pensa em ser muitas coisas, mas de uma ela tem certeza: leitora assídua nunca deixará de ser.




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