O cirurgiao disse que ela tinha um buraco no peito, um buraco antigo que cresceu e nos ultimos dias evoluiu para algo pior. O coração nao era mais o mesmo. Disse que nao foi a culpa dela, ela nao teve culpa de nada, por mais incerteza que te passassem. Estava lá há muito tempo, se recuperou por um tempo, mas voltou com um buraco no coração.
Ela tentou te amar com feridas abertas, tentou ser presente mesmo quando se sentia ausente. Quis cuidar de voce, quando ela tambem precisava ser acolhida. Nao, nao era culpa dela, disseram. Qualquer coisa que colocavam lá, caia e entrava em suas veias. Estão tentando juntar tudo com pressão, cola e paciência.
Mas, ela precisa de um tempo para se recuperar do machucado. Agora, pode ir embora. Pegue um avião para longe, a deixe, deixe voce dois aqui, onde as férias estão vivas . Deite a cabeça no travesseiro e nao se preocupe, ela vai viver, vai demorar , mas estará aqui a qualquer momento.
Sob efeitos de analgésicos, ela me falou que nunca te amou em vão. Te amou desde o primeiro beijo corajoso até o ultimo no mesmo lugar da primeira vez: no estacionamento. Estão costurando sua pele e já já irão abrir as portas, descartar as luvas e passar por um longo corredor. Voce dirigiu para longe dela, dos problemas e nao parou para vê-la, para senti-la pela ultima vez.
Ela quase pensou ter ouvido seu nome saindo pela sua boca. Quase alucinou com a expectativa de te ter e nao ter. Quis que voce estivesse no quarto, a esperando, mas voce foi embora. Longe dela, das suas coisas favoritas, do amor que era forte , mas que foi abandonado, descartado e jogado.