É um domingo e já estamos todos acabados.
Já faz um tempo que eu vejo ela. O olhar cabisbaixo, o sorriso que aparece de vez em quando, seus olhos claros. Mas, quem conhece sabe. Ela está cansada, sobrecarregada de tudo ser e não ser nada.
Você sente de perto que a solidão ama sua companhia e que mesmo rodeada ela se sente sozinha. Anda devagar com medo de cair e do chão nao se levantar. Se veste na tentativa falha de se sentir leal a si, mas derrapa.
Derrapa na rampa do dia a dia. Entra no carro e por mais que esteja ali, faz um tempo que ali jaz. Nos sabemos que ela não está bem e já faz um tempo. Tentamos ajudar e eu passei a cuidar mais dela do que de mim.
Isso seria amar , não é? Ir a um lugar quando seu coração só sabe falhar. Parar na frente da casa, respirar fundo e entrar. Para o mar de confusão, gritaria e depressão. Eu sinto, ela sente e quem é de fora, nao entende.
Não entende que o cansaço passou o físico e virou mental, emocional, sentimental. Que nós somos a falha mecânica do ano, que mal começou e já nos levou no furacão. Ela para e eu fico na sua frente, a abraço de lado e tenho vontade de chorar. Chorar porque eu estou aqui e compreendo.
Compreendo que família não se escolhe, mas eu escolhi todos os dias estar ali. Na minha dor, na dor dela e ainda sim sentir. E tem sido dificil demais sentir por mim e por outro. Escutar a fala e despertar meu lado mais cuidadoso para entrar na casa, sentar, engolir meu choro e deixar, ela desabafar.
Amor deve ser isso. Família deve ser sacrifício. E aqui eu fico. No contar dos dias, na espera que a agonia dela vá embora e passe para mim tudo o que ela sente para que ela sinta a paz que não sente há algum tempo.
Absorvo o que posso. Tomo o café pela milésima vez porque sentar na mesa e não o te-lo perde significado. Ela me olha, eu a olho. E eu sei que ela me vê na calmaria, no cuidado e na fala diária de : eu estou aqui sempre que precisar e mesmo quando não precisar de mim. E vou ajudar a existir de alguma forma, por mim e por ti.