Desbrave-me

 Um escritor se denuncia. Sabemos que esta que vos fala , já disse muito sobre si . Disse muito de si em cada frase antes mencionada. Cada grito silencioso nos parágrafos escritos nesses ultimos 40 dias. É triste ver que estou nua na sua frente e dessa vez, não tenho vergonha de me mostrar. Nunca tive vergonha de ficar despida na frente dos outros e finalmente estou aqui.

A denuncia que me fez estar aqui é a mesma que me fez ir. Dizer nunca será o suficiente, porque suficiente não sou. Mas, por enquanto, tento ignorar a existência dessa palavra já que ela foi dita até me machucar na medida que ainda me faz chorar. Perdoe os temas sensíveis, as palavras com sinônimos, os textos repartidos feitos de mim.

Ainda é uma surpresa escrever quase diariamente apenas para desabafar o que sou ou penso ser. Vomitar a força tudo o que se encontra dentro de mim, até os sonhos antes sonhados; as decepções amargas, os segredos que ainda continuam ocultos nas entrelinhas. E detalhe: tudo acaba sendo sobre eu, de certa forma. Minhas experiencias, alguns devaneios e poucas utopias.

 

Nunca soube dizer se sou uma boa escritora, mas de uma coisa sabemos: é na dor que me torno melhor quando escrevo. Na felicidade, nos guardamos as memórias, as fotos, as falas. Mas, é na dor que somos moldados para sermos nos mesmos e chegar no tempo que precisamos pensar mais que falar; silenciar para poder escutar; calar para fazer. É na abstinência que também me mostro ser mais sedutora do que imaginei uns tempos atrás. Quem diria que ela poderia ser a coisa boa dos dois mundos?

E não sei dizer bem, mas eu precisei voltar aos tempos que a escrita me deixava ávida. Tirando de mim um pouco de tudo e deixando ainda o muito. Me salvando e me destruindo como uma faca de dois gumes. Estacando a ferida e machucando de novo. Ironia, sempre haverá. Também terá raiva, tristeza, agonia, solidão, esperança, amor e sinceridade. Essa é apenas a maior verdade. Cada escrito é sobre mim , mas também pode ser sobre você.

Nas tempestades, eu me sento com as costas encostadas na parede, fingindo que estou lendo para quem quiser me ouvir o que eu guardo dentro de mim. Então, me imagine ao me ler. Escute minha voz e sinta reverberar cada palavra que sai de mim para alguém que se identifica em algum paragrafo, frase e prova que existe. Existe gente que me lê e entende sem nem me conhecer.

Mas, não há melhor forma de conhecer alguém do que desbravar seu coração. Aqui estou eu, me desbrave. Fique a vontade para ficar.