Lado B



Quando voce nao tem mais nada o que dar, elas ainda ficam. Quando nos dias mais escuros, elas te consolaram e nao te deixaram desanimar, elas permanecem. Quando a dor é grande e extravasa, elas deixam voce para crescer e dao as mãos porque so o tempo há de fazer.


Voce escreve para colocar para fora o que queria contar, mas se reserva para quem confia e se confiar é uma tarefa dificil. É raro encontrar alguem que voce poderia passar horas olhando e nao se cansaria. Poderia contar a coisa mais boba e nao esperaria julgamento.


Nunca foi facil conversar, mas é compassivo falar e ser ouvido. No olhar compreensivo, no toque calmante, no abraço mais quente. Se há muito o que falar, se guarda, mas não prende. Desabafa nas lágrims que caem como a chuva fina. No segurar das mãos e no firmar dos dedos, como se dissesse ao mundo: estou aqui mesmo que voce nao esteja inteiro.


Do meu lado B, faria uma lista com tudo o que mudou nos ultimos tempos, mas também o que ficou. Não há voltas, mas as mudanças chegaram. Tem dias bons e também ruins. Aquele que a chuva é a representação perfeita do quanto estou despedaçada.


Não há sorrisos tão sinceros, palavras tão verdadeiras, apenas o que existe , mas poucos conseguiriam segurar nas mãos o coraçao. O olhar perdido é mais vago que antes. O vazio não consegue ser preenchido. É como se a palavra que eu mais temesse estivesse voltando, mas ela nunca se foi. Não de verdade.


Só a deixei de lado, fingindo que ela não existia para que não precisasse encarar meu maior desafio: não sucumbir, não chorar, não desmoronar. E dia apos dia, voce pensa que não seria tão ruim sumir mais um pouco. Mudar de nome, fingir ser outra pessoa. Com um alter ego que com a cabeça erguida, com o olhar determinado superasse a tristeza que insiste em ficar.

 

O diagnóstico já foi dado. O CID foi designado e desse lado, enfrento a minha versão mais séria, menos aberta e que permanece escondida em um esconderijo que nem mesma eu possa encontrar. Não há chaves mais. Só uma proxima partida.

Perde-se

 

Em dias frios como esses, em que a chuva me lembra na janela, o quanto eu sinto saudade do seu abraço. Mas, eu espero, lá no fundo que a ausencia nao seja sentida; que a falta vá para longe mesmo quando a quero perto.


Nas contradições, há um conflito e eu fico no meio disso tudo. As vezes, eu acho que não sei dizer o que sinto. Mas, aqui estou eu: escrevendo o que estou pensando e as vezes, sorrindo com vontade de chorar. Querendo gritar e guardando silencio porque poucos me entenderiam. Daria para contar nos dedos.


Parece facil, mas eu me perco tentando me encontrar. Parece que perco aquilo que também tento amar. Deveríamos encontrar e segurar apertado. A verdade é que também estamos nisso: de perder e ganhar; cair e tropeçar, depois levantar. É um equivoco quando falam que vai passar.


E vai, em algum momento, mas voce simplesmente fica esperando nao sei o que acontecer. Crio diálogos na minha mente como se fosse passar e chegar em algum lugar. É como se eu tivesse uma conversa e esperando respostas. 


Mas, como as coisas ficam fáceis quando se tem um colo pra deitar a cabeça e so falar. Ou não falar nada. So deixar tudo ser levado até o momento que estivermos pronto para falar. No final de tudo, não há mais confusão. Somente pensamentos perdidos, sonhos desavisados e sentimentos certos sobre algo que não existe mais. Mesmo que ainda viva em mim.

Ligação

 

0803

Vou contar a história de como um amor foi e é tão grande, que trouxe voce para mim. A junção da surpresa, da tensão e dos beijos demorados. A união de duas mãos que se entrelaçaram e nunca mais soltaram.


Dos olhares compartilhados, dos dedos presos, dos pés que se encontraram, de dois corpos que te formaram. E como uma bela música, construímos a partitura, depois de algumas tentativas. Preenchemos o que faltava, conversamos sobre melhorias, mudamos o tom e acertamos a letra.


No embalo de uma noite fria, mas não tão gelada, nos a abraçamos. Abraçamos a telepatia, a conexão e a ligação que nos deixava como dois nós, atados, nas tentativas tolas de nos soltarmos. E ainda sim, algo nos trazia de volta. Um para o outro.


O lar que foi nossa primeira casa, tornou-se a única que não nos deixava sentirmos sozinhos. Um pelo outro e os dois por um. A vida que uniu em uma tarde de domingo , celebra na aliança o maior e o melhor amor das nossas vidas.


Nos desafios do comodismo, encontramos a leveza de amar os defeitos, considerar que aquilo que está quebrado nem sempre precisará ser consertado. Mundos acabarão e estaremos a um passo de existir. Viver nos trouxe até voce, um caminho com vários desafios, mas nenhum que nao possa ser superado a partir de agora.


Atmosfera








 Sente-se e me descreva. Na atmosfera que somos, me despejo em ti. Como se a saudade pudesse se medir. Mas, quem disse que ela parte e se parte, do que adiantaria existir? Ninguem me disse que seriamos reais em algum momento, mas tornamos nosso amor, um reino. Fomos únicos e inteiros, com uma constelação de medos.


Flutuo além da gravidade, porque a Terra não me prende como você me firmava ao chão. Liberto-me em silencio e me solto nos gritos mudos. O som que não podia ser ouvido, torna-se melodia nas pontas dos meus dedos. Desenho ti como desejo. Aprendi que o tempo passará e muitas outras coisas nao mudarão. Nada mudará. E não tem problema te mencionar.


Na cama, ao meu lado, me deixa segurar sua mão. Se voce estiver longe, eu irei te encontrar. Se isso for suficiente para você, nos encontraremos a cada amanhecer e anoitecer. Deixaremos as constelações saberem como nossa vida é conectada e mesmo com as áreas cinzentas, desnudamos um para o outro. O ato de se apaixonar é solitário, as vezes, mesmo com a companhia passageira.


O mundo decidiu que o medo pode existir e a coragem também. E quando decidiu ser falível era o mesmo que ser fraca, todos acreditam nisso. E isso, estava em toda parte. Do céu noturno ao cheiro do café, do calor suado, do mar salgado, do abraço quente ao sorriso mais doce. Existir também pode ressignificar solidão.


Estrelas são imutáveis. Nós podemos mudar tudo , mas nada as mudará. Maiores que todos nós e mesmo assim o Triângulo de Verão apontará na direção certa. E o alivio é saber que algum dia, por mais longe que esteja, algo vai melhorar. Senão o tempo, a história.


Se não for a minha, que seja a sua. Permanecemos mutáveis com os ventos; brilhamos esporadicamente como as estrelas e fervermos quando tocados. Na medida que estamos sozinhos, ainda podemos sermos admirados. De longe, deitados no chão da varanda vendo como o mundo é imenso , as estrelas continuam tão distante. Mas, a um toque podemos senti-las nas pontas dos dedos e assim, iluminamos a escuridão que antes esquecemos quando formos inteiros.

Em outra vida.




Feche os olhos e se imagine em outra vida. Aquela que não foi sua por meio de escolhas difíceis a serem vividas. O que pretendia fazer, mas acabou nao fazendo por acidente ou erro.


Se acredita em destino , confie nisso. Se não crê em coincidências e sim no alto, foque nisso tambem. Porque qualquer que seja nossa crença, ainda somos as mesmas pessoas de antes, mas mudadas por atos e decisões definitivas.


Escolhas grandes e pequenas, e cada uma delas tem consequências. A suposição do que poderíamos ter sido ou do que deveríamos ter feito fica no pretérito imperfeito. O futuro está a um estender de mãos e ainda sim, anseio e o receio. 


Tão imprevisível quanto sonhos, planeja-lo é como estudar para uma prova e nunca ter a chance de ser aprovada. E não existe gente perfeita, mas aqueles que querem fazer dar certo ao invés de combater suas tristezas.


Destino ou não. Poder ou não. Decida-se ou se decida. Fazer do "ou" e do "e se", algo a se permitir. Sem ser absolvido por ações antes de partir. E na guerra e no amor, somos as exceções de quem se é.


A própria definição de que em outra vida, talvez fossemos de uma forma. Ramificações de uma linha do tempo que não existe. A nova linha traçada por páginas viradas, frases escritas e vividas. A continuação de um livro que vive sem certeza e que parte te vendo seguir.

Restos




 A casa enlutada permanece em silencio na espera de uma voz que não vem. Na lembrança, a presença permanece. Na ausência, ela se repete. E rebobina uma fita que já não existe mais fisicamente, mas continua dentro de si.

Em cada canto de um lugar, seus passos sao ouvidos. A risada, a batida na porta, o cheiro do perfume que te segue e me faz querer ir ao encontro do seu corpo. Para senti-lo mais uma vez. Sentindo o calor que hoje é frio e distante.

A lapide tem as palavras mais gentis, mas se pudesse ser dita com as nossas, provavelmente seria mais alta e tocaria o céu. Se pudesse escreveríamos as mais lindas histórias que tivemos, até as mais doloridas, com direto a lágrimas transbordando pelos olhos, abraços apertados e beijos salgados.

Nos detalhes das páginas, eu me perco mais um pouco. No meio de nós e mais dentro de mim. Prestando atenção em ações e palavras, o que ouvi e deixei de ouvir. O que senti e como agi. Nos restos de um amor inteiro.

No passado imperfeito, somos os que possuem mais defeitos. Nas falhas humanas, nas emoções escondidas e no coração fechado. Lembrando que nossos olhos ainda falam mais que mil palavras; que cada ação pode ser vista, mas não sentida. 

Deixa flores para que floresçam longe de si, mas perto de ti. Conta os segredos, relata os desesperos e admite sonhos para quem se foi, como se pudesse ter resposta ou uma afirmação. Crê no milagre, mas não o vê em vão. E nos restos de si , eu ainda te encontro em mim.



Bia - mora em João Pessoa, PB. Fisioterapeuta, instrutora de pilates e amante da literatura. Sempre foi amante de livros desde criança e em 2014 criou o Blog Meu Coração Literário para compartilhar sua paixão pela escrita e pela leitura.




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