De cloridrato eu trago. Como um fumante que traga para acalmar os nervos, eu tomo um para não tomar dois de voce. Tomo um e me torno sonolenta demais ou insolente ate ser. Deixo que o efeito me encha do que não consigo me preencher. Os efeitos colaterais silenciam o que ainda sinto por você. Seria tão errado assim admitir ou querer?
Fluoxetina
De cloridrato eu trago. Como um fumante que traga para acalmar os nervos, eu tomo um para não tomar dois de voce. Tomo um e me torno sonolenta demais ou insolente ate ser. Deixo que o efeito me encha do que não consigo me preencher. Os efeitos colaterais silenciam o que ainda sinto por você. Seria tão errado assim admitir ou querer?
Escombros
1802 |
Eu não sei desarmar uma guerra, mas consigo te desarmar inteira. O toque pelo pescoço, o roçar da barba na sua bochecha, o riscar dos meus lábios nos seus, o olhar que vai dizer muito sem te dizer nada. As mãos que vão passeando por suas linhas, desenhando suas curvas , segurando cada parte sua.
A batalha começa quando nossas bocas vão dizendo o que queremos fazer. Demonstrar para, de fato, aproveitar que estamos juntos, lado a lado, nunca um contra o outro. Beijos terão a força de um momento, suspiros serão o inicio da nossa jornada e começaremos a partir dali ou de lá. Onde quiseres começar.
Como uma dança, dançaremos a noite inteira. Eu darei o primeiro passo e voce seguirá a minha deixa. Deite-se, vire de lado, deixa que eu suba em voce e depois inverta. Os lençóis ficarão ensopados pelo fogo que nos incendeia. Daremos mais um passo e outro, até o momento que cansarmos e gemidos serem os únicos sons que escutaremos.
E eu vou deixar, voce me ver para compreender que somos a parte inteira de duas metades quase imperfeitas. Não precisamos nos partir para juntar. Seu olhar me faz orbitar como um planeta, em torno de voce. E como o sol sente falta da lua, eu sinto sua falta e essa distancia que nos afasta, me ateia.
Nos escombros dos meus detalhes, eu quero os seus para nos reconstruímos, pouco a pouco. Formamos o que nunca poderia ter sido desistido. Te olharei na certeza que você é minha: metade e inteira.
Dorme tranquila
Pode continuar me olhando, mas quando o sono vier, deixe-o vir até você. Feche seus olhos e eu estarei aqui, do seu lado, penteando seus cabelos, tocando sua pele e te fitando como se fosse a primeira vez que te vejo.
Desaparecida
![]() |
1506 |
Aponta-se para o horizonte, mas mal vê que o farol aceso vai se apagar. Estende o corpo buscando por qualquer faísca para nao te ascender. Embarca sozinho, na certeza que em breve vai esquecer a terra firme onde criou laços e viveu felizes.
De longe, a vê, se demora até que seus contornos sumam de vista. Os cabelos que passam dos ombros, o desenhar das curvas; o sorriso dado abertamente e os olhos que resumiam tudo. Como uma página, ela fica, mas voce vira. História passada.
A costa some aos poucos. A casa fica pequena, mas por dentro aperta-se inteira para te caber. O por do sol cai, como todos os dias desde então, como as neblinas dentro dos olhos de quem se vê. Três dias em alto mar e mais ainda longe de ser real, até aceitar ser.
Quando mais longe se vai, mais se aproxima do que acredita não mais existir ou finge que não quer voltar a costa, onde era seguro estar. Joga a ancora no profundo azul do mar, na vã esperança que prender-se a algo vai esquecer a experiencia que a ilha trouxe.
Declara-se inocente, mas não inocenta o outro lado que agora some de vista. Nas muitas evidencias da sua partida, ficaremos a mercê de uma despedida ou no aguardo de mais uma vinda.
Deixando-se desaparecer dos outros meios. Mergulhado do outro lado do oceano que nos separa e que um dia prometemos um ao outro que seriamos amores por toda uma vida.
E de certa forma, ainda é. Continuo desaparecida e voce também, sem torcer por reencontros, porque não suportaria outra despedida. Sinceramente, nem pelo tempo deixaria voce desaparecer de mim.
Lado B
Quando voce nao tem mais nada o que dar, elas ainda ficam. Quando nos dias mais escuros, elas te consolaram e nao te deixaram desanimar, elas permanecem. Quando a dor é grande e extravasa, elas deixam voce para crescer e dao as mãos porque so o tempo há de fazer.
Voce escreve para colocar para fora o que queria contar, mas se reserva para quem confia e se confiar é uma tarefa dificil. É raro encontrar alguem que voce poderia passar horas olhando e nao se cansaria. Poderia contar a coisa mais boba e nao esperaria julgamento.
Nunca foi facil conversar, mas é compassivo falar e ser ouvido. No olhar compreensivo, no toque calmante, no abraço mais quente. Se há muito o que falar, se guarda, mas não prende. Desabafa nas lágrims que caem como a chuva fina. No segurar das mãos e no firmar dos dedos, como se dissesse ao mundo: estou aqui mesmo que voce nao esteja inteiro.
Do meu lado B, faria uma lista com tudo o que mudou nos ultimos tempos, mas também o que ficou. Não há voltas, mas as mudanças chegaram. Tem dias bons e também ruins. Aquele que a chuva é a representação perfeita do quanto estou despedaçada.
Não há sorrisos tão sinceros, palavras tão verdadeiras, apenas o que existe , mas poucos conseguiriam segurar nas mãos o coraçao. O olhar perdido é mais vago que antes. O vazio não consegue ser preenchido. É como se a palavra que eu mais temesse estivesse voltando, mas ela nunca se foi. Não de verdade.
Só a deixei de lado, fingindo que ela não existia para que não precisasse encarar meu maior desafio: não sucumbir, não chorar, não desmoronar. E dia apos dia, voce pensa que não seria tão ruim sumir mais um pouco. Mudar de nome, fingir ser outra pessoa. Com um alter ego que com a cabeça erguida, com o olhar determinado superasse a tristeza que insiste em ficar.
O diagnóstico já foi dado. O CID foi designado e desse lado, enfrento a minha versão mais séria, menos aberta e que permanece escondida em um esconderijo que nem mesma eu possa encontrar. Não há chaves mais. Só uma proxima partida.