Aquela caixinha vermelha.

Por Bia Leite



     Hoje não sou a mesma pessoa. Você mudou provavelmente. Estamos a passos distantes, em caminhos diferentes. Eu estou revirando minha casa, limpando a poeira e jogando fora coisas que não servem mais.
   Achei uma caixinha vermelha no fundo do armário. Tinha umas fotos nossas, um coração de madeira com seu nome escrito e uns pedaços de papel em que você tinha escrito poemas para mim. As lembranças voltaram nesse momento.
   Na verdade, nunca foram embora. Sempre estiveram aqui, em mim, mas escondi lá no fundo para não pensar em você. Mas, dessa vez, resolvi encarar o que aconteceu conosco. As fotografias já eram um pouco velhas, mas me lembro daquela que tenho eu e você segurando guitarras do guitar hero. Formamos uma bela dupla de rock , lembra?
       Ou aquela outra que estamos na piscina, e nos olhamos, mostramos o olhar apaixonado que minha irmã capturou. Tenho uma sua: lindo, de camiseta azul claro, com um sorriso de uma ponta a outra, formando aquela bendita covinha, que me fazia derreter.
    Parece que tudo passa nos meus olhos agora: cada cena, cada beijo, cada afago. Suspiro. Não te esqueci. Não se esquece tão facilmente aquele cara por quem você foi apaixonada a anos e ainda é, pelo que parece. Mas, não. Você já se foi há algum tempo, e eu devia estar fazendo qualquer outra coisa, só que fui remexer no passado.
   Balancei meus sentimentos por você. Ainda sinto os gostos, o calor do seu corpo, o desejo por você, o romance que eu achei que duraria para sempre. Eu sei que não devia querer o sempre, mas naquela época, eu queria tudo. Casa, cachorro, filhos. Nova para isso, é, eu sei.
   Todas as feridas ainda estão abertas. Todas as estrelas ainda são vistas. Estávamos no mesmo jogo, como foste trapacear? Como foste convidar alguém para entrar, se só era nos dois. Você me amava. Eu ainda amo. Você me pediu para jogar de novo, só nós dois, te dar um chance, mudar o sentido do jogo. Porém, minhas peças tinham mudado. Eu perdi. Você me decepcionou.
   Joguei suas peças na caixinha vermelha e fechei, para não lembrar o que tinha acontecido. Chegar naquela tarde e te surpreender eram a intenção. Mas, te vi de mãos dadas com outra jogadora. Vi-te dar um beijo molhado. Como continuar fingindo? Como foi jogar para cima tudo o que um dia tivemos?
    Eu fui jogada de lado e tinha tantos planos para nós dois, poderíamos ter continuado os mesmos. Mas nada fica a mesma coisa. O jogo muda, o objetivo é destruído. O sentimento é machucado. Sinto fagulhas de dor, o sabor salgado das minhas lágrimas escorrendo no meu rosto e o doce amargo das suas mentiras . Vou jogar fora essa caixa. De lixo, eu não preciso. Tudo o que importa é o que estou fazendo agora. Seguindo em frente.
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Bia, 27 anos, mora em João Pessoa, PB. Fisioterapeuta, instrutora de pilates e amante da literatura. Sempre foi amante de livros desde criança e em 2014 criou o Blog Meu Coração Literário para compartilhar sua paixão. Além de ser viciada em café, series e filmes. Pensa em ser muitas coisas, mas de uma ela tem certeza: leitora assídua nunca deixará de ser.




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