Por do sol


Enquanto a hora não vem, vou-me. E dessa vez talvez vá de vez, desça ou suba dependendo se quero verão ou inverno; outono ou primavera. Ou todos por uma vez. E foi assim, que olhando o sol se pondo em um dos lugares mais lindos que já vi, que queria você também lá. Iria amar, eu sei disso. Veria como o tempo passa devagar quando uma paz, invade sem voce querer. 


Ele se pondo, a luz caindo sobre seu corpo e o vento frio te chamando. O mundo para, o silencio aplaude e sem as mãos ao lado, se abraça. Porque não existe mais nada a ser feito para se manter inteiro do que persistir que não sou um erro. Sou um mero telespectador em um cenário quase perfeito, onde os pensamentos ainda vem com força e as lembranças me levam até voce.


E sozinha, sento para observar e transcender. Cresço sem querer e choro ainda por lembrar o que perdi para ter. E dos ultimos nasceres frios que vi, soltei o ar e com minha pele congelando falei ingles, espanhol e português sem precisar fingir. Descobri que me neguei por tempo demais e vou partir quantas vezes puder e mesmo nas que não puder, lembrarei de que ri com desconhecidos, recebi presentes de estranhos e esqueci que a insegurança é ainda minha raiz.


Caminhei longas distancias. A pé e sozinha, com gorro, cachecol e luvas. Quando me sentia perdida, parava e sorria. Do que adiantar viver sem se perder? Ai me encontrei e voltei para casa feliz. Deve ser essa a sensação de se descobrir. E agora que fiz isso mais de uma vez, em um mesmo continente, em países diferentes e estados distintos. Quero repetir a dose: pode ser expresso americano ou pingado.


Quero voltar a existir. Quero descer e subir. Sorrir para as pessoas, acreditar que a gentileza me assiste e eu a assisto vê-la passar por mim. No aceno de uma bebe, no comentário de uma gringa, de uma família do interior do Rio Grande que para por mim. E voce percebe que o mundo é grande mesmo como disseste, mas seria melhor se descobrisse ele comigo. Se visse do que eu acho graça e de que o calor também faz companhia ao frio.


Que as mãos quentes se aquecem do gelo; que as geadas podem passar e nublar o tempo; mas no mesmo dia, o inverno ainda será bonito. Dos novos abraços aos antigos. Do telefone antigo que atendi e ri por lembra-lo da infância e com carinho, me despedi rindo sozinha. Sem medo, sem me importar que fossem rir comigo ou de mim. Soprando o ar frio, dando passadas sem pensar na hora para acabar. Congelando até os ossos para depois aquece-los na manta quente até pegar no sono.


O por do sol nunca foi tão bonito ao ser visto do mais alto céu. De cima olho meus medos, cinco sao suficientes para mata-los, não? As nuvens parecem de algodão, o sol se põe laranja no horizonte e eu voo. Mais vezes do que pensei, mais cansada do mar de gente que passou por mim, dos cafés tomados e sempre lembrados que : a mesa para um não é problema a não ser quando a solidão assenta. Mas, ela me acalenta quando já doeu demais e ainda dói, porque de toda forma, eu ainda daria tudo para não tê-la ao meu lado.


Enquanto se senta, percebo que o horizonte é grande demais mesmo. O espanhol falado rápido é engraçado e o ingles britânico ainda é meu favorito. E tentar imita-lo é meu novo vicio. O café da tríade é diferente e eu queria te mostrar isso. O gosto amargo, adocicado, laranja ou árabes. As sobremesas mais diferentes que provei, estão na minha boca esperando para serem descritas e repartidas.


No mesmo momento que o mundo gira, o tempo parou por algumas semanas e muitos dias. E agora estou pronta para a próxima partida e dessa vez, a mais definitiva. Deixando meu corpo ir e minha mente viajar aos extremos.  Carimbo meu passaporte e migro a próxima aventura. Virando a contadora de histórias e fugindo do que poderia ter sido meu destino. 


15 graus




Amanheceu. E nós 15 graus me enrolo como quem nunca sentiu o frio antes, mas sentiu sim. Na época das coragens e dos abraços quentes sob cobertores finos e sorrisos intencionais. De nasceres do sol em que a curva mais bonita era sua pele e dos risos cumplices. Não havia resgate.



Desenhando nos cabelos, o cheiro, a maciez do toque . Posteriormente , regado a um café forte e nada amargo, sentada e devendo uma parte a ti. Ou várias partes de mim. O combinado do quente e frio, do doce e amargo, do um e outro.



O céu nublado com os galhos secos de inverno trazem na beleza a direção que superou o medo de voar, que falou duas línguas sem receio de se enrolar. Ver de cima que não me importaria mais de cair, mesmo que não tivesse quem me segurar.


Voar sem ser meu; mas ainda mantendo um pouco de coragem de confiar que não preciso acertar sempre, mas se arriscar for preciso. Aqui está o meu destino. Do norte ao sul, do leste ao oeste. Ultrapassando fronteiras, conhecendo gente do Sudeste ao nordeste, da Espanha ao Peru.



Chegar onde antes nunca quis estar, mas agora quero ficar. Em qualquer lugar , onde me queiram e não preciso implorar por direção. Deixo meus pés tropeçarem se possível, permito que as cataratas me adocem e no mar de gente , sinto me pequena mas tão grande para eu mesma.



No imenso verde, perco nas trilhas. Solto-me do apego, embarco no primeiro ou no último onibus. Enquanto o vento gelado toca o resto, escuto a piada do casal da frente, o idioma dos amigos de trás e imagino quem amaria estar aqui também.



Se olhar no céu, um tucano verá. Deixará ele voar como eu também? A imensidão do azul brilha com um ponto preto e branco, se entregando tão sem medo para eterno se tornar . No brilho do por do sol, nas pontes que ficaram e no novo que veio, falou que já aprendeu a perder, mas mereceu também por ganhar. 




Esse é o ponto de partida no final de tudo: o amanhecer de novos dias e o anoitecer de noites não perdidas. O começo do fim. E o término da chegada. Gira veloz , mas passa devagar. Eu ainda queria que o ponto e vírgula insistisse em mim como persisto em sorrir.

Bia - mora em João Pessoa, PB. Fisioterapeuta, instrutora de pilates e amante da literatura. Sempre foi amante de livros desde criança e em 2014 criou o Blog Meu Coração Literário para compartilhar sua paixão pela escrita e pela leitura.




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