Estar sozinho é engraçado, louco, angustiante,
libertário e triste, tal qual estar com alguém. No entanto, estar sozinho é
absolutamente o oposto de estar com alguém. Estar sozinho é fechar as mãos no
nada quando se atravessa a rua correndo e não se tem uma mão para segurar.
É
acordar sem saber o que será do dia porque planejar sozinho dá preguiça. É
falar a coisa mais engraçada do mundo para alguém que não vai rir, porque
ninguém te entende tão bem. É ficar louca sem cúmplice. Não tem graça ser fora
da lei sozinho. É querer contar tanta coisa para alguém, mas para quem?
A vida
simplesmente acontece para quem está sozinho, às vezes sem que a gente perceba,
pois é mais fácil ter noção de si mesmo através de outra pessoa. Estar sozinho
é fazer dengo sozinho na cama, sem ninguém para apenas encaminhar o ombro um
pouco mais perto.
É comer doce demais porque sua boca precisa de um incentivo
para continuar salivando vida. É comer doce demais porque estar sozinho dá uma
tremedeira estúpida de hipoglicemia. É o doce que substitui mal e amargamente o
sexo.
Estar sozinho é dormir até tarde no domingo. Não para congelar o tempo na
alegria, mas para fazer de conta que o tempo não existe. É conviver com a
ansiedade de que você pode encontrar alguém especial a cada esquina, então você
tenta ficar bonita. Mas seus olhos não mentem o cansaço da espera e a tristeza
de estar solta, e você fica feia.
É ter a sensação de que ninguém te olha, pelo
menos não como você gostaria de ser olhada. Estar sozinha é estar solta e, no
entanto, é estar amarrada ao chão porque nada te faz flutuar, sonhar, divagar.
Estar sozinho, ou estar sozinha, pode acontecer com qualquer um. E você torce
para que aconteça com a sua melhor amiga, ou com aquele homem que você gostaria
de experimentar como uma pílula para a sua solidão.
Estar sozinha é não
suportar ouvir a palavra solidão porque ela faz sentido. E o sentido dela dói
demais. Estar sozinho é ter uma risada nervosa, de quem segura um grito e um
choro enquanto ri. Um riso falso para se convencer de que é possível ficar
sozinho sem ficar deprimido. Estar sozinho é usar roupas provocantes sem se
sentir sexy com elas.
É conferir a caixa de e-mails com uma freqüência que
beira a compulsão. É chorar do nada. É acordar do nada. É morrer de medo do
nada que fica no estômago. Estar sozinho é uma coisa física, ou melhor, é a
falta dela.
Você se sente oco por dentro, por isso aquele respiro profundo de
lamentação. É cogitar enlouquecer. O ombro pesa porque é tenso ficar sozinho. E
porque não tem ninguém pra te fazer massagem também. Quando chove, venta,
escurece, e você está sozinho, você lembra de Deus e do quanto é pequeno.
Estar
sozinho é se aproximar de Deus por piedade própria e não por agradecimento, que
é o que nos faz aproximar Dele quando estamos amando. Estar sozinho é detestar
ficar em casa. Ficar em casa sozinho, quando se está sozinho, é muita solidão.
Então você sai, só para não ficar em casa sozinho. E descobre o quanto você é
sozinho. E volta pra casa sozinho, e chora vendo fotos.
Estar sozinho é
implorar paixão e loucura com um olhar para o carro ao lado, segundos antes de
você ver que ele não está sozinho. É trabalhar para passar o tempo e só
conseguir escrever títulos, roteiros, spots e textos chatos, sem inspiração.
É
procurar um olhar pela rua e andar por aí com cara de louco. É estar pronta
para algo novo e não aguentar mais dias iguais. É ocupar a vida de açúcar,
intrigas, fofocas, encrencas. Aventuras tortas. É ocupar a vida dos outros com
reclamações, lamentações, dúvidas e carências. Resumindo: estar sozinho é
triste, enche o saco dos outros e deve fazer mal para a saúde.
— Tati Bernardi , como é mais conhecida, nasceu em 1979 em São Paulo e formou-se em Propaganda e Marketing pela Universidade Mackenzie. Além da publicidade, Tati também dedica-se a literatura, já tendo quatro livros publicados, sendo os mais conhecidos: "A mulher que não prestava" e "Tô com vontade de alguma coisa que eu não sei o que é".Tati Bernardi consagrou-se com seu site, onde a maior parte do público são mulheres. Além disto, Tati também é colunista e cronista de revistas, como a Viagem & Turismo, blogueira e redatora da TV Globo.