Resenha: O conto de Aia, Margaret Atwood

Título:O CONTO DA AIA

Autor: Margaret Atwood
Ano( Nova edição) : 2017
Páginas: 368
Editora: Rocco

Sinopse:Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, o a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano.

O Conto de Aia contará a história de Offred, uma mulher de 33 anos, que vive na República de Gilead, como uma Aia na casa de um comandante de alto escalão do Exército. Nesse futuro distópico, varias regiões do Planeta foram devastadas pela radiação e pelas guerras, cujo governo atual é teocrático, ou seja, baseado nas interpretações do Antigo Testamento. Logo boa parte das mulheres deixaram de ser férteis, assim cada família tem uma Aia com apenas uma função: procriar.

Nesse mundo, os homens possuem o controle total: retiram as mulheres de suas próprias famílias, estas são proibidas de ler, obrigadas a usar um uniforme, não podem olhar outros homens diretamente nos olhos, não podem falar sobre banalidades, ou seja, só devem orar, fazer as compras diárias e se submeter a procriação.

 Qualquer desvio dos padrões da sociedade é passível de morte. Parece algo surreal , certo? Apesar de estarmos no século XXI, a condição de mulher na sociedade é uma luta diária, que pode ser confundida com o pensamento feminista, quando na verdade, nós brigamos pela liberdade de ser e fazer o que quisermos, não sermos vítimas do machismo e tradição patriarcal existente. Em O Conto da Aia, a autora dá tantos tapas na cara, que você pensará: Nossa, isso parece muito com nossa realidade, não é mesmo? Isso é só o contexto inicial que Atwood introduz para desenvolver a história de Offred. A autora amplia as reflexões, critica as relações de poder da igreja, discute o tratamento entre classes sociais e entre gêneros.

“Mas isto está errado, ninguém morre por falta de sexo. É por falta de amor que morremos.”

A autora é simplesmente genial ao abordar de forma chocante e única o tema. É até perturbador acompanhamos a narrativa da Offred, que é submetida ao sofrimento e solidão de sua  nova vida. 
A narradora, Offred ( literalmente, “de Fred), nos mostra sua nova vida após perder sua família, seus direitos , suas escolhas e até seu próprio corpo, assim como todas as mulheres da EUA.Para não esquecer de si, ela relatará sua rotina, trará á tona flashbacks de seu treinamento como Aia, o momento que tudo momento não só para ela, mas para todo o país.

“Como todos os historiadores sabem, o passado é uma enorme escuridão, e repleto de ecos. Vozes podem nos alcançar a partir de lá; mas o que dizem é imbuído da obscuridade da matriz da qual elas vêm; e, por mais que tentemos, nem sempre podemos decifrá-las precisamente à luz mais clara de nosso próprio tempo.”

Gente do céu ! Quando assisti ao primeiro episodio da série The Handmaid’s Tale,  eu fiquei tão impactada, chocada e surpresa com a distopia, que mal pude esperar para ler o livro. E quando o momento de ler chegou, foi como devorar alucinadamente as páginas de O Conto de Aia.  

O livro vai além de governos misógenos e conservadores, da incitação da xenofobia, da fragilidade da democracia perante seu próprio povo. É sobre a luta das mulheres, que parece não ter fim por respeito e mais igualdade. É uma história fictícia, mas é assustadora, chocante e necessário, visto que vivemos uma era que os direitos civis , principalmente das mulheres, se encontram em risco.
  
Margaet Atwood nos apresenta uma história angustiante, com uma escrita hipnotizante, nos jogando no coração da personagem principal, vivendo sua rotina, presenciando os atos insanos e acompanhando seus pensamentos e sentimentos.

Apesar de ser um livro denso e repleto de reflexões durante a leitura , eu estou sem palavras para tamanha sutileza na narrativa. Um livro publicado em 1984, mas que revela uma faceta sombria da humanidade.Esse é aquele livro que você tentará esquecer, mas não conseguirá. Você não será poupado dos detalhes, das lágrimas e dos pensamentos reflexivos que venha a ter. Definitivamente, uma distopia original e uma obra prima .   Mais do que recomendado, é preciso lê-lo, é indispensável.

"Como sabiam os arquitetos de Gilead, para instituir um sistema totalitarista eficaz ou, de fato, qualquer sistema, seja lá qual for, é preciso que se ofereça alguns benefícios e liberdades, pelo menos para uns poucos privilegiados, em troca daqueles que se retira." 


  Nota: ★★★★(5/5) 


Resenha: Admiravel Mundo Novo, Aldous Huxley

Título: Admirável Mundo Novo

Autor: Aldous Huxley
Editora: Globo de Bolso
Ano: 2014
Páginas: 312

Sinopse: A Terra agora se divide em dez grandes regiões administrativas. A população de 2 bilhões de seres humanos é formada por castas com traços distintivos manipulados pela engenharia genética: nos laboratórios são definidos os poucos dotados, destinados aos rigores do trabalho braçal, e também os que crescem para comandar. Não há espaço para a supresa, para o imprevisto. O slogan "comunidade, identidade e estabilidade" sustenta a trama do tecido social. Estamos no ano 632 depois de Ford - aquele da linha de produção de automóveis - quando o amor é proibido e o sexo, estimulado.Tais ingredientes levaram "Admirável mundo novo" a figurar ao lado de "1984", de George Orwell, e "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury, como uma das principais obras antiutópicas do século XX, em que um futuro sombrio aguarda a humanidade.Alguns ainda veem na ficção de Huxley, esse inglês refinado e cultíssimo, uma crítica à crescente influência americana no período entreguerras, que trazia a reboque a cultura de massas e o "american way of life".
Este é, acima de tudo, um romance de ideias, que descreve as formas mais sutis e engenhosas que o pesadelo do totalitarismo pode assumir, e que resiste inexpugnável às interpretações político-ideológicas de esquerda ou direita suscitadas desde seu lançamento. Mundialismo, controle genético, adestramento comportamental e intoxicação coletiva não são dados soltos para a mente construir com eles uma utopia: são órgãos solidários e inseparáveis de um mesmo e único sistema. Onde quer que apareça um deles, os outros o seguirão, mais cedo ou mais tarde. A lógica deste romance imita e condensa a lógica da Historia. E Huxley, desenvolvendo a sensibilidade a ponto de criar esse retrato ainda hoje tão perturbador, tornou-se autor de um dos grandes clássicos da literatura mundial.


Imagine uma sociedade totalmente organizada, na qual todas as instituições que conhecemos (Família, casamento, amor, fé) não existem. Não havendo liberdade de escolha, a servidão seria aceitável devido a doses de felicidade química (como uma droga) , com ideologias que seriam ministradas em cursos durante o sono. Desde crianças , você seria condicionado a seríamos condicionados a uma vida funcional e adaptado aquele meio. Seríamos divididos em castas ou classes sociais . ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Esse é o Mundo Novo da obra ou seria nossa sociedade atual? ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
"Quando as portas da percepção forem abertas, todas as coisas surgirão diante do homem como verdadeiramente são: infinitas". ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Na Sociedade criada por Huxley, o lema é "Comunidade, Identidade, Estabilidade” . As pessoas não eram mais concebidas de forma natural, agora são produzidas” em massa em laboratórios, como na  linha de produção de uma indústria .

"O Homem ainda faz parte da Natureza. Ele não pode anulá-la, pois ela vive dentro dele próprio. Ele ainda pode voltar a ser o que era antes de se "destacar" de seus "irmãos", se é que chegou a ser alguma coisa."

O "Mundo Novo" é próximo da perfeição , pois o Estado quer garantir o bem-estar da comunidade, assim não há doenças, fome, guerra , nem confusão quando você queria amar alguém , ninguém ficava velho fisicamente . Mas, e se você pudesse escolher ? Entre nossa sociedade, com injustas e falhas ou uma sociedade planejada para o "bem estar social", onde o todo é importante e o individual é reprimido?

A perfeição do Mundo Novo tem seu preço. Tudo em da felicidade, a opressao da verdade, evolução da ciência. As pessoas não seriam mais seres humanos e sim máquinas voltados para a vida coletiva. 
Assim como 1984 e A Revolução dos Bichos – ambas do George Orwell, Admirável Mundo Novo faz uma crítica contundente ao consumismo exacerbado, abordando o capitalismo opressor e com um ideal de perfeição ao consumismo. 

O livro foi um desafio, já que tive um pouco de dificuldade na linguagem, pois existem algumas palavras em desuso e algumas falhas no desenvolvimento que me incomodaram. Em resumo, eu gostei do clássico , porem o início foi muito mais fácil de ser compreendido e o drama do meio para o fim não me convenceu . Porém, leiam e tirem suas próprias  conclusões.


"Quando as portas da percepção forem abertas, todas as coisas surgirão diante do homem como verdadeiramente são: infinitas."



  Nota: ★★★★(4/5) 

Resenha: Minha Vida Fora dos Trilhos, Clare Vanderpool


Título: Minha vida fora dos trilhos

Autora:Clare Vanderpool
Páginas: 304
Gênero: Drama infanto-juvenil
Editora: Darkside Books

Ano: 2017
Sinopse:A protagonista de MINHA VIDA FORA DOS TRILHOS, Abilene Tucker, tem apenas 12 anos, mas é corajosa e impetuosa o suficiente para encontrar aventuras na pequena cidade de Manifest, Kansas, um fim de mundo para onde seu pai a enviou de trem a fim de passar o verão sob a tutela de um velho conhecido enquanto ele trabalha em uma ferrovia.

O que parecia ser o período mais solitário e entediante de sua vida ganha um novo e surpreendente rumo quando Abilene encontra uma velha caixa de charutos com cartas antigas e pequenas lembranças de outros tempos. Aos olhos curiosos da menina, a caixa se torna uma verdadeira arca do tesouro, onde segredos enterrados conectam dois momentos da cidade. A partir de então, o livro se divide em duas narrativas cronológicas: passado e presente se misturam, daquela maneira mágica que só um bom livro consegue contar.Os acontecimentos vão da época da Primeira Guerra Mundial à Grande Depressão norte- americana dos anos 1930, com soberba fidelidade histórica que ajudam a construir esta narrativa de perda e redenção

Minha vida fora dos trilhos é o recente lançamento do selo Darklove da Darkside. Esse é o primeiro livro da autora Clare Vanderpool que li e posso dizer que sua escrita me conquistou.

Abilene Tucker é  uma menina de 12 anos, que foi mandada por seu pai (Gideon) para passar um tempinho em Manifest Kansas, na casa da um conhecido , enquanto seu pai trabalha na ferrovia. Os dias se passam , mas Abilene têm esperança que seu pai voltará para busca-la. Afinal, não importava qual a dificuldade, eles sempre permaneceriam juntos, certo?

Quem sonharia que alguém pode amar sem ser esmagado por esse peso?

Porém, enquanto isso não acontece , Abilene acaba descobrindo uma caixa com uma série de cartas de um soldado da Primeira Guerra Mundial chamado Ned Gillen para seu amigo Jinx, com alguns itens: uma isca de pesca, uma bonequinha, uma moeda específic Ao mesmo tempo que ela fica curiosa para descobrir mais sobre essa história, Hattie Mae, a principal repórter da cidade, e a Srta Sadie, uma velha vidente a ajudarão a entender mais sobre o passado de Manifest.  Abilene também encontra  velhos jornais de Hattie Mae  com as notícias durante o ano de 1918 da cidade.



Incrivel como a autora associou fatos reais para criar sua história: a grande leva de imigrantes para trabalhar nas minas, os membros da Ku Klux Klan, a mineradora carrasca que tinha a cidade nas suas maos, os  Trens dos Órfãos e tudo isso associado também a Grande Depressão.

Para mim, aquelas coisas eram como tesouros de um museu, objetos que uma pessoa podia estudar para aprender sobre outro tempo e os indivíduos que nele viveram.

Abilene é uma personagem cativante  e que nos leva nessa investigação sobre a cidade e sobre si mesma. Ela não entende porquê seu pai a deixou ali e nem porquê ninguém fala nada sobre ele na cidade. A história é desenvolvida a partir da busca da Abilene para descobrir de quem e o qual a importância do conteúdo na caixa. Quem são os garotos das cartas? E o que isso tudo tem haver com ela e seu pai?


A narrativa é dividida entre o presente e o passado: Grande Depressão e Primeira Guerra Mundial. A escrita da autora é envolvente e fluida, interligando bem as linhas temporais. Mas, confesso que ficava angustiada pelo presente, para acompanhar a Abilene nas suas descobertas. Ela nos apresenta um vasto universo histórico, nos fazendo mergulhar nas duas histórias apresentadas com uma leve pitada de suspense, mantendo o mistério da identidade de Cascavel, vilão da história dos garotos em 1918.


Quando há sofrimento, procuramos um motivo. E é mais fácil encontrar esse motivo dentro de si mesmo.
A diagramação do livro é enriquecedora, contando com recortes do jornal da época, ilustrações do mapa do Kansas e da ferrovia, algumas cartas da Srta. Sadie, e muitos mais.Minha Vida Fora dos Trilhos é um livro de ficção histórica, então se você gosta desse gênero, do cenário, de duas narrativas em uma e de personagens que ditarão o rumo da historia, é mais do que recomendado.


  Nota: ★★★★(4,5/5) 

Bia, 27 anos, mora em João Pessoa, PB. Fisioterapeuta, instrutora de pilates e amante da literatura. Sempre foi amante de livros desde criança e em 2014 criou o Blog Meu Coração Literário para compartilhar sua paixão. Além de ser viciada em café, series e filmes. Pensa em ser muitas coisas, mas de uma ela tem certeza: leitora assídua nunca deixará de ser.




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