Editora: Intrinseca
Nota: 3,5'
Giovanna escuta seus pais dizerem o quanto ela é feia e
maldosa como a tia Vitoria. Seguimos a vida de Giovanna por 16 anos: entre a
perda de seus amigos, a vontade de agradar aos pais e a tia, sua relação com
seu corpo durante a puberdade e a atração pela pela tia tão odiada.
Essa foi minha primeira experiencia com a escrita da autora
e eu percebi que essa história tem uma carga dramática familiar bem acentuada,
personagens secundários que influenciam as decisões da personagem e um elenco que
dividiu minhas opiniões durante a leitura.
Nápoles é bem descrita até o ponto de parecer vivido a experiencia
com o livro. Uma personagem insegura dentro da sua própria casa, do seu próprio
corpo e refém de suas emoções. Uma família instável e permeada de brigas. Elena
Ferrante pincela sua obra aos poucos, sem pressa e não tem medo de provocar o
leitor com obscenidade. Principalmente quando se trata de uma menina de 13
anos, que é exposta a vida sexual da tia muito cedo.
Infelizmente não consegui criar empatia por nenhum
personagem. Giovanna me pareceu egocêntrica, dramática e exagerada em alguns
momentos. Mesmo a trama tendo uma perspectiva interessante através da
protagonista. Ela cresce e acompanhamos as mudanças na sua vida, suas relações
familiares, seus problemas e suas formas de lidar com o veneno psicológico que
é exposta tão cedo.
“Foi assim que, aos doze
anos, soube pela voz do meu pai, sufocada pelo esforço de mantê-la baixa, que
eu estava ficando igual à sua irmã, uma mulher na qual – eu o ouvira dizer
desde sempre – feiura e maldade coincidiam perfeitamente.”
Ao finalizar a leitura, percebi o quanto as pessoas podem
serem toxicas. A Giovanna percebe todas as mentiras que a rodeiam, o esforço
que os adultos fazem para aparentemente serem perfeitos. Ao conhecer sua tia
Victoria, aquela tão odiada por seus pais, tida como feia e maldita, a leva a
viver acontecimentos inesperados, a lidar com decepções e amadurecer.
Com uma escrita fácil, poética, apesar do ritmo lento. A
prosa da Elena Ferrante me prendeu e me levou a questionar a busca da
identidade quando somos adolescentes. A atração que sentimos pela beleza, que
muitas vezes nos é tirada durante essa fase, a vontade de ser livre da família
e crescer de uma vez para ser adulto. Porém, é aqui que percebemos a ilusão de
querer se tornar adulto, uma vez que vimos tantas imperfeições nas suas vidas.
“Mentiras, mentiras, os
adultos as proíbem, porém dizem tantas.”
Uma história agradável, provocante e apesar das ressalvas, me deixou querendo ler mais obras da
autora. O olhar de uma criança sobre a vida dos adultos foi mostrado de maneira
nua e crua. O final aberto me satisfez , assim pude dar asas a imaginação sobre
Giovanna.