Ele não ligava, nem mandava mensagem durante
semanas. Mas tinha uma mania sacana de aparecer quando ele já tava quase
desaparecendo da minha cabeça. Era carência, tava na cara – e faltava vergonha
na minha, porque eu sempre acabava cedendo. Não me dava valor e ainda ficava
indignada por ele não dar também.
Eu aceitava ser a última opção e ainda tinha
a cara de pau de espernear e choramingar por ai usando a maldita frasezinha
clichê de que nenhum homem presta. Claro que ele não ia prestar, pra que
prestar com alguém que transpirava falta de amor próprio? Ninguém ama quem não
se ama, ninguém respeita quem não se respeita – doloroso, mas verdadeiro.
E
quando você não tá na onda de ser amada, ta tranquilo - um supre a carência com
o outro e fim de papo. Mas eu tava afim de sentimento, tava super na onda de
mãozinha dada e ligação de madrugada só pra ouvir um ”tava pensando em você”.
E
claro que ele não ligava, a gente quase sempre só pensa antes de dormir em quem
causa aquele nervosinho de incerteza dentro do nosso peito – e eu tava sempre
ali, um poço de certezas, não tinha porque ele pensar. Muito menos ligar.
E foi
ai que eu mudei. Parei de aceitar o último pedaço do bolo, se o primeiro pedaço
não fosse pra mim, eu simplesmente ia embora da festa – não me servia mais. E
olha só que mágico, ele nunca me chamou pra tantas festas e nunca vi alguém me
oferecer tantos pedaços de bolo – a mágica só não foi tão boa porque eu
simplesmente não queria mais.
Não queria mais mágica, não queria mais bolo, não
queria mais ele. Quando a gente passa a se valorizar a gente consegue enxergar
nitidamente quanto os outros valem – e ele valia tão pouco, desencantei. Peguei
meu coração e coloquei ele lá no topo de uma arvorezinha danada de alta, e vou
te falar, nunca vi tanta gente disposta a escalar – homem adora um desafio.
Pois bem, que vença o melhor!
Tati Bernardi, como é mais conhecida, nasceu em 1979 em São Paulo e formou-se em Propaganda e Marketing pela Universidade Mackenzie. Além da publicidade, Tati também dedica-se a literatura, já tendo quatro livros publicados, sendo os mais conhecidos: "A mulher que não prestava" e "Tô com vontade de alguma coisa que eu não sei o que é".Tati Bernardi consagrou-se com seu site, onde a maior parte do público são mulheres. Além disto, Tati também é colunista e cronista de revistas, como a Viagem & Turismo, blogueira e redatora da TV Globo.