Eu
costumava pensar que podia fugir do meu passado. Acreditava que podia esquecer
meus problemas. Mas, eles estavam lá. Para me fazer lembrar, que tudo o que é
inacabado volta para te atormentar.
Acordar
todos os dias e perceber que seu corpo é o mesmo, só que mais magro e menos reconhecível
torna-se natural. Tenho evitado olhar para o espelho, não quero ver as olheiras
das noites mal dormidas, nem a aparência que seria facilmente despercebida
antes.
Vou
a escola e escolho fechar os olhos toda vez que alguém percebe que sou nova e
tira sarro da minha cara, me pergunta coisas do meu antes e que eu desejaria
esquece-las para não lembrar o que fiz.
Na
aula de álgebra eu desenho. Desenho o rosto do garoto que tem segurado as
pontas do meu sorriso, isso de vez em quando. Finjo que estou concentrada no
exercício de classe, mas sei que ele me olha. Sinto seu olhar como uma presença
tão forte. Sinto meu sangue circulando mais rápido, as batidas desaceleradas do
meu coração e o rubor marca meu rosto.
O
sinal toca. Ele sorri, satisfeito com o que fez, propositalmente comigo. Nossos
colegas nos reparam. Deixo cair um dos meus cadernos, mas ele é mais rápido do
que pensava. Já está do meu lado. Mãos segurando o que é um segredo meu. Puxo
rapidamente e o guardo.
Se
ele soubesse o quanto seus traços são leves e bem desenhados, o quanto os seus
olhos transmitem e ardem sobre mim, e do seu sorriso... Ele não pode saber, que
algo me puxa, como imã para você.
Porém,
nunca tenho tempo suficiente para correr para longe dele. Ele segura minhas mãos
e me olha. Não consigo prender meu olhar, e veja que já estou bem ruborizada.
Ele está me chamando para sair, tem algo para me mostrar. Se ele quiser me
mostrar uma árvore na frente da minha casa, coisa que eu nunca tinha reparado,
eu vou aceitar. Mas, demoro. Só para mantê-lo na linha, para dificultar sua
jogada.
No
meu quarto, tento de novo evitar espelhos. Vejo os vestidos disponíveis, mas
decido ser mais chata e vou de calça jeans, camiseta e meu tênis all star.
Esqueci de dizer a ele meu endereço, mas acredito que ele tem suas maneiras
para arranjar.
Ás
7 horas, ele chega. Eu sei. Só não sei como eu saberia, como eu sentiria sua
presença desse jeito. Tento ser dura, mas ele me derrete. Diz as palavras
certas e eu não tenho como culpa-lo por nada. Ele me encara e eu sei o que
odeio sentir, mas sinto. Eu sinto o calor do seu corpo se aproximando, dos seus
lábios se entreabrindo e eu fecho os olhos, sem pensar. E acontece.
Esse
é o beijo. Então acaba. É isso. Mas, então, ele segura minhas mãos e uma
eletricidade passa por todo meu corpo. Meu olha e segura, me puxa para perto,
para que eu possa colocar me encaixar na curva do seu corpo. E me leva, de
volta para casa. Aquela de verdade, com minha família completa e meu tormento
noturno.
Então,
tento aproveitar o momento. Ficar abraçada o máximo, então acho que ele percebe
o quanto preciso dele e me aperta, beija o topo da minha cabeça e sorri. Diz
que não me soltará, que ligará e estará ao meu lado mesmo sem eu precisar. Não
sabe ele o quanto eu preciso e me sinto segura nos teus braços.
Inspirado em A Desconstrução de Mara Dyer ♥
Interessante'
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